O olhar do vitral dentro de minha alma: Catedrais Medievais

Rosácea de Chartres, França
Rosácea de Chartres, França

Imaginemos um vitral em forma circular, ou seja, uma rosácea. Um mundo de cores diferentes.

Cada uma daquelas cores é uma amostra de um firmamento daquela cor no qual gostaríamos de nos perder.

Começo, então, dentro dele, um passeio diferente: ora entro no céu de anil, ora no dourado absoluto, depois no verde total ou no vermelho rubro.

Meus olhos distraídos entram naqueles pedacinhos de céu, olham daqui, de lá e de acolá.

Em determinado momento, me vem a maior alegria: a visão do conjunto.

Rosácea lateral, Chartres
Rosácea lateral, Chartres

Ao cabo de algum tempo, não sou mais eu que estou olhando para o vitral, mas o vitral é que está olhando para mim.

Um imenso olhar de “alguém” que contém todos os estados de espírito correlatos com aquelas várias cores e que no seu conjunto me analisa.

Analisa a mim como um todo feito de proporções desiguais e irrepetíveis.

Nunca houve antes, nem haverá depois, um outro igual a cada um de nós.

Quando se sente certa solidão, o vitral preenche o vazio.

Aquele conjunto maravilhoso de cores nos interpreta e nós temos vontade de dizer:

– “Sim, oh vitral! Como teu olhar é inteligente! Como és compreensivo e abarcativo. Como soubeste entender-me e como tu és parecido comigo”.

Se eu olho em torno de mim e vejo outras pessoas contemplando o vitral, noto como elas são diferentes de mim e que para cada uma delas o vitral diz coisas diferentes.

Nossa Senhora "de la Belle Verrière", Chartres
Nossa Senhora "de la Belle Verrière", Chartres

Percebo a variedade inesgotável de interpretações que a alma humana, olhando para o vitral, pode dar, a ponto de se sentir compreendida pelo vitral.

Então, essas fotografias de vitrais medievais não dão o melhor do vitral.

Porque o melhor do vitral é quando a rosácea inteira deu a sua luz para nós.

Por quê?

Por causa da natureza da alma humana. Nós podemos ter aspectos de alma lindos.

Mas, o mais bonito é contemplar a alma enquanto criatura em que Deus imprimiu uma imagem d’Ele.

Desde o primeiro homem até o último, cada um ocupa um lugar sem o qual a coleção ficaria incompleta. Se faltasse, seria como um vitral que tomou uma pedrada e nesse ponto apareceu um buraco.

(Autor: Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, 26/10/1980. Sem revisão do autor.)

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Os artistas medievais deixaram à posteridade uma das mais belas e harmoniosas realizações da genialidade humana posta ao serviço de seu Criador

A CATEDRAL DE CHARTRES

As maravilhosas catedrais góticas são, sem dúvida, alguns dos mais belos frutos oferecidos pelo Cristianismo à civilização. Nascida num período turbulento, mas também extremamente fecundo, a arte dos godos difundiu-se da Europa para o mundo inteiro. Seus idealizadores tinham como objetivo levar os homens até o seu Criador, proporcionando-lhes, por meio do esplendor, da beleza e mesmo da magnificência, a possibilidade de experimentar uma forma de contato com Ele.

Temos de concordar que aqueles antigos artistas foram sumamente felizes em seu intento.

Podemos encontrar em quase toda a Europa bons exemplares dessas obras-primas de engenharia e arte. Na França, por exemplo, há algumas de rara beleza. Partindo de Paris rumo a sudoeste, antes de percorrer noventa quilômetros já contemplaremos à distância as duas torres altaneiras da catedral de Chartres, distintas e belas, elevando- se graciosamente em meio aos ondulantes campos de trigo.

Esse monumental edifício gótico, construído no século XIII, guarda uma inestimável relíquia, a qual atrai constantemente peregrinos do mundo inteiro: a chamada Sancta Camisia, uma túnica que pertenceu à Santíssima Virgem Maria e que, segundo a tradição, foi oferecida à catedral pelo imperador Carlos Magno. O seu imponente pórtico, como também os dois transeptos, são ornados por numerosas imagens de santos, esculpidas com extrema delicadeza, numa infinidade de detalhes impossíveis de serem absorvidos numa única visita. No interior do exuberante templo, causam profunda impressão as enormes colunas que se erguem do chão e terminam num delicado encontro, formando ogivas.

Porém, o que talvez mais tenha empolgado as sucessivas gerações de visitantes que através dos séculos buscaram Chartes são os seus incomparáveis vitrais.

A luz do astro-rei atravessa suavemente os vidros desse recinto sagrado, fazendo em seu seio brilharem as mais formosas figuras. Vivas cores e encantadoras formas refletem-se nas austeras paredes, numa magnífica multiplicidade de tonalidades que parecem continuamente pintar o ambiente

(Revista Arautos do Evangelho, Set/2007, n. 69, p. 50-51)